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quarta-feira, 23 de julho de 2014

Ariano Suassuna Morre em Recife

Ariano Suassuna nasceu em 16 de junho de 1927, em João Pessoa, e cresceu no Sertão paraibano. Mudou-se com a família para o Recife em 1942. Mesmo com os problemas na saúde, ele permanecia em plena atividade profissional. "No Sertão do Nordeste a morte tem nome, chama-se Caetana. Se ela está pensando em me levar, não pense que vai ser fácil, não. Ela vai suar! Se vier com essas besteirinhas de infarto e aneurisma no cérebro, isso eu tiro de letra", disse ele, em dezembro de 2013, durante a retomada de suas aulas-espetáculo.
Na Faculdade de Direito do Recife, em 1946, encontrou vários escritores atores, poetas, pintores, romancistas e pessoas interessadas em arte e literatura, como Hermilo Borba Filho, José Laurênio de Melo, Carlos Maciel, Salustiano Gomes Lins, Capiba, Galba Pragana, Joel Pontes, Ivan Neves Pedrosa, Aloísio Magalhães, Heraldo Pessoa Souto Maior, José de Moraes Pinho, José Guimarães Sobrinho. Esse grupo teve profunda influência na formação de Suassuna. No ano seguinte, escreveu sua primeira peça de teatro: Uma Mulher Vestida de Sol, baseando-se no romanceiro popular nordestino. De lá, para cá, foram quase 20 obras escritas.

Em 1959, em companhia de Hermilo Borba Filho, fundou o Teatro Popular do Nordeste e as bases para o Movimento Armorial, que seria lançado em 1970. Formado em direito e filosofia, se tornou professor de várias cadeiras (estética, literatura brasileira, teoria do teatro) na Universidade Federal de Pernambuco, de onde se aposentou em 1989. Sempre atuante, Ariano Suassuna ocupou vários cargos políticos. Na década de 70, foi secretário de Educação e Cultura do Recife e, mais recentemente, na gestão de Eduardo Campos, secretário da Cultura e e depois secretário da Assessoria Especial do Governo de Pernambuco. Ariano Suassuna era casado com Zélia de Andrade Lima e deixou seis filhos.


Para Eduardo Campos, Ariano deixa exemplo de dignidade e amor ao Brasil

Eduardo posou para foto com Ariano no Carnaval do Recife deste ano, em que o escritor foi homenageado pelo Galo da Madrugada / Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
"O Brasil perde a maior expressão da cultura popular brasileira. Nós perdemos um amigo, um conselheiro, uma referência de toda a vida. Mas Ariano deixa um exemplo de dignidade, que todos nós brasileiros devemos seguir. Exemplo de austeridade, amor ao povo e amor ao Brasil, amor a cultura e amor a ética", destacou Campos. "Então, viva a Ariano Suassuna e ao seu exemplo de vida", acrescentou.

Video:  Ariano Suassuna - Torcedor do Sport Club Recife

Em março deste ano, Ariano foi homenageado pelo maior bloco do mundo, o Galo da Madrugada.  Ele pediu que a decoração fosse feita nas cores do Sport, vermelho e preto, e ficou muito contente com a homenagem. “Eu acho o futebol uma manifestação cultural que tem muitas ligações com o carnaval”, disse, na ocasião.
No mesmo mês, o escritor concedeu uma entrevista à TV Globo Nordeste sobre a finalização de seu novo livro, “O jumento sedutor”. Os manuscritos começaram a ser trabalhados há mais de trinta anos.
Na última sexta-feira, Suassuna apresentou uma aula espetáculo no teatro Luiz Souto Dourado, em Garanhuns, durante o Festival de Inverno. No carnaval do próximo ano, o autor paraibano deve ser homenageado pela escola de samba Unidos de Padre Miguel, do Rio de Janeiro.
Com montagem d'O Auto da Compadecida no Rio de Janeiro, Ariano conquistou a crítica brasileira (Foto: Acervo pessoal / Ariano Suassuna)Com montagem d'O Auto da Compadecida no Rio de Janeiro, Ariano conquistou a crítica brasileira (Foto: Acervo pessoal / Ariano Suassuna)
Obra
A primeira peça do escritor, "Uma mulher vestida de sol", ganhou o prêmio Nicolau Carlos Magno em 1948. Ariano escreveu um de seus maiores clássicos, "O Auto da Compadecida", em 1955, cinco anos depois de se formar em direito. A peça foi apresentada pela primeira vez no Recife, em 1957, no Teatro de Santa Isabel, sem grande sucesso, explodindo nacionalmente apenas quando foi encenada – e ganhou o prêmio – no Festival de Estudantes do Rio de Janeiro, no Teatro Dulcina. A obra é considerada a mais famosa dele, devido às diversas adaptações. Guel Arraes levou o “Auto” à TV e ao cinema em 1999.
O escritor e dramaturgo Ariano Suassuna morreu por volta das 17h15 desta quarta-feira (23), no Recife. Aos 87 anos, Ariano faleceu após uma parada cardíaca. Ele estava em coma, respirando com a ajuda de aparelhos, internado na UTI neurológica do Real Hospital Português, área central do Recife, desde a noite dessa segunda-feira (21), quando havia sido submetido à cirurgia após sofrer Acidente Vascular Cerebral (AVC) hemorrágico. O quadro clínico do escritor sofreu uma piora na noite dessa terça de acordo com boletim médico divulgado às 20h.

Ariano Suassuna "teve uma parada cardíaca provocada pela hipertensão intracraniana", explicou a neurocirurgiã Feliciana Castelo Branco, que assinou a nota de falecimento do escritor enviada à imprensa.

O velório será no Palácio do Campo das Princesas, sede do Governo de Pernambuco, a partir das 23h, aberto ao público. O enterro acontecerá nesta quinta-feira (24) às 16h, no cemitério Morada da Paz, em Paulista, Grande Recife.
O escritor considera que seu melhor livro é o “Romance d'A Pedra do Reino e o príncipe do sangue do vai-e-volta”. A obra começou a ser produzida em 1958 e levou 12 anos para ficar pronta. Foi adaptada por Luiz Fernando Carvalho e exibida pela Rede Globo em 2007, com o nome de "A pedra do reino".
Na década de 70, Ariano começou a articular o Movimento Armorial, que defendeu a criação de uma arte erudita nordestina a partir de suas raízes populares. Ele também foi membro-fundador do Conselho Nacional de Cultura.
Após 32 anos nas salas de aula, Suassuna se aposentou do cargo de professor da Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. O período também ficou marcado pelo reconhecimento nacional do escritor – Ariano tomou posse na cadeira 32 da Academia Brasileira de Letras (ABL), no Rio de Janeiro, em 1990.
Arte: NE10

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